
Esta não-questão que cresceu após as críticas feitas à forma física que Jessica Athayde apresentou na Moda Lisboa gera respostas a dois níveis distintos. Um, claramente o primeiro, mais emotivo e irracional, manifesta-se no meu post anterior. Sem construções, sem elaborações mais ou menos complexas, sem filtros. É inacreditável que uma mulher com um corpo como o da Jessica Athayde seja criticada por ter um corpo como o da Jessica Athayde.
Depois de calar a revolta do animal que nos habita, podemos entregar-nos a alguma interpretação.
O mundo da moda é isto. Longe do glamour, dos holofotes e das passarelles, esconde-se um grupo de homossexuais ressabiados, frustados e zangados com a vida. Acompanhados de algumas mulheres gastas antes do tempo, consumidas pelo abuso de substâncias ilegais, trilham este percurso de redução da imagem da mulher à de um cabide para pendurar roupa. À sua lamentável incapacidade de exibir seios generosos ou uma anca digna de registo, respondem com a censura desesperada de quem acha que calças roxas que se enfiam no rabo estão muito bem. A perversa eliminação de todos os traços femininos do corpo da mulher ganha facilmente adeptos/as junto de adolescentes mais ou menos ignorantes, se for introduzida como condição sine qua non para aceder ao universo luminoso dos desfiles em Milão ou Paris. É um gigantesco jogo de exibição, frustração e prostituição no qual, infelizmente, é impossível voltar à casa de partida.
Nota: a senhora da imagem chamava-se Isabelle Caro. Escrava dos preceitos da moda, cedo caiu na armadilha da anorexia. Passou os últimos anos da sua miserável existência a lutar para que outras jovens não lhe seguissem as pisadas. Morreu em 2010, com 28 anos, por todas as razões erradas.