Cavaco Silva, segundo parece, não disse o nome de Sócrates uma única vez durante a entrevista de ontem.
Cavaco Silva, segundo parece, não disse o nome de Sócrates uma única vez durante a entrevista de ontem.
Há três dias, apareceu-me uma pequena borbulha na barriga da perna. Vou seguir o conselho de Sócrates e pedir explicações por isto a Cavaco Silva.
O ar de nojo que Cavaco Silva exibe durante a cerimónia de tomada de posse do perdedor Costa teria piada - se não implicasse um futuro tão triste para todos nós.
O Expresso de Balsemão titula: "Cavaco provoca conflito com o Parlamento por causa de tomada de posse". Depois, subtitula: "Presidência da República marcou tomada de posse do Governo para a mesma hora de sessão plenária na Assembleia da República. Ferro Rodrigues não gostou (*). Grupos parlamentares também não."
Ora se no fim do mesmo subtítulo afirma que "Belém diz que a cerimónia foi acordada com António Costa", porque raio o Expresso de Balsemão não titulou "António Costa provoca conflito com o Parlamento por causa de tomada de posse"?
(*) Parafraseando o nosso vasto presidente da assembleia de república: estou-me cagando para aquilo de que Ferro Rodrigues não gosta.
Os socialistas não recebem lições do prof. Aníbal Cavaco Silva. Pois, o nosso problema tem sido precisamente esse...
Há pouco, meti-me num deslocador transversal para visitar o universo paralelo em que Cavaco Silva anunciou aquilo que fará no pós-eleições. Muitos dos que neste o acusam de não dizer o que fará - naquele, acusavam-no de estar a condicionar o voto dos portugueses.
Curiosamente, neste mesmo universo, muitos daqueles que encararam com normalidade o candidato Costa reunir-se com os "lesados do BES", ter debatido com eles "soluções" para o caso de ser eleito e não esclarecer o eleitorado a esse respeito - estão agora a esbracejar porque Cavaco Silva não diz o que pensa fazer conforme os vários resultados eleitorais.
Esta crise política começa a parecer um enredo de uma novela mexicana, daquelas que preenchiam as grelhas vespertinas das nossas televisões há uns 15 anos atrás. Com intrigas, revelações e traições mal dissimuladas, os ingredientes estão todos lá.
Não me parece que Cavaco tenha evidenciado uma visão desproporcionada dos seus poderes, como já ouvi, e também não me parece que seja suficientemente ingénuo ao ponto de acreditar que o acordo por si proposto seja viável, como também já ouvi. Cavaco entrou neste enredo e encostou o PS à parede. Com sacrifício da imagem deste Governo, talvez merecido, o Presidente da República propôs uma solução que, até aqui, só tinha conhecido o firme desacordo público das hostes socialistas. É, no entanto, a solução mais popular. Seguro, que tem procurado capitalizar o desgaste alheio recorrendo ao seu marasmo genético, vê-se na contingência de escolher: ou fica de fora, mal visto pelo povo e pelas instituições europeias, ou aceita esta solução, e perde o discurso que tem alinhavado para as próximas eleições, sejam estas quando forem.
Duas notas reforçam a minha argumentação: ao contrário do que se tem lido por aí, Cavaco não sugeriu eleições em Junho de 2014. Sugeriu a negociação de um calendário que implique eleições a partir de Junho de 2014, o que é completamente diferente. Por outro lado, deixou no ar a ideia de que, caso este cenário falhasse (e é neste cavalo que o PR aposta), há um Governo em funções, perfeitamente legitimado.
Imagino assessores socialistas a tentar arrancar Seguro, forçado a agir, de debaixo de uma secretária, num qualquer gabinete do Largo do Rato.
Miguel Sousa Tavares, nos seus delírios etílicos, decidiu chamar palhaço ao Presidente da República. Consequência lógica, a PGR abriu-lhe um inquérito.
Após uma análise superficial dos comentários que abundam nas redes sociais, surpreende-me ver a quantidade de pessoas que acham perfeitamente normal dedicar ao Chefe de Estado semelhantes epítetos. Mais estranho ainda, verificar que muitas pessoas acham que o facto de ter sido alguém lamentavelmente vísivel a proferi-los é comparável à conversa de café que tem lugar entre anónimos.
Muito mais do que qualquer taxa, imposto, despedimento ou corte salarial, é este tipo de cultura democrática que grassa por aí que me faz não ter qualquer esperança na concretização de um milagre que nos tire da fossa.