George Clooney defendeu há dias, durante uma apresentação do seu filme mais recente, que o friso de colunas do Partenon, contrabandeado em 1803 e actualmente exposto no Museu Britânico, deveria ser devolvido à Grécia. Estas palavras geraram tanta gratidão na Grécia que até levaram a um convite, feito pelo seu ministro da Cultura, para que Clooney fosse uns dias "ver uma infinidade de antiguidades gregas conservadas sob o sol mediterrâneo".
Eu não tenho muitos problemas com o que Clooney disse. É fofinho e seria simpático que os ingleses o fizessem, pois já puderam brincar dois séculos com os mármores. Mas estas celebridades razoavelmente inteligentes têm um problema: entusiasmam-se e nunca sabem parar enquanto estão a ganhar. Poucos dias depois, George Clooney afirmou que a Mona Lisa devia ser devolvida aos italianos.
Acontece que há uma grande diferença entre o friso de Partenon e a Mona Lisa: o primeiro está em Inglaterra como resultado de um acto legalmente dúbio; a pintura está em França porque foi vendida num negócio - em aparência - perfeitamente legítimo.
Argumentará Clooney que as obras de arte devem ficar no seu país de origem? Defenderá Clooney, então, que Portugal devolva os Mirós a Espanha - e Espanha, os deuses nos acudam, devolva-nos Kátia Aveiro?
Há quem justifique esta ideia de Clooney com a teoria de que a venda do quadro teria sido decidida por um Leonardo da Vinci já pouco esclarecido, ou um seu herdeiro sem noção do real valor daquilo que estava a negociar. Mas a questão é que defender a anulação de um negócio de arte por ter sido mau para uma das partes, ou porque uma das partes estaria mal informada, seria um erro. Se George Clooney seguir esta linha, vai abrir uma Caixa de Pandora com consequências imprevisíveis. No limite, tornaria legítimo que pedíssemos a Clooney a devolução do que pagámos - pelos bilhetes de Batman & Robin.